Apesar dos avanços em relação à temática da homossexualidade, o campo científico ainda concede maior ênfase à ausência de paradigmas para o relacionamento homossexual como uma problemática a ser superada (França, 2007; Madureira & Branco, 2007; Beloqui, 2008; Roselli-Cruz, 2011). Sob outro viés, este artigo objetiva apresentar a falta de paradigmas para as famílias constituídas por homossexuais como abertura para inúmeras possibilidades de construções ricas e amplas. Trata-se de uma pesquisa de revisão de literatura que contempla dois eixos: a) teórico: alicerçado no modelo da Escola de Terapia Narrativa, fundada por Michael White e David Epston (Nicols & Schwartz, 2007); b) prático: baseado em obras que retratam a história de um casal homossexual, a militância de um grupo que luta pela cidadania de homossexuais (Reis & Harrad, 1996; Grupo Dignidade, 2008) e também a experiência de um grupo de mães lésbicas a partir de um trabalho envolvendo práticas narrativas coletivas (Reid, 2008). Desta forma, a história da ausência de paradigmas para as famílias homossexuais é classificada como histórias saturadas de problemas, que impossibilitam uma visão construtiva da vida (Morgan, 2007). Por outro lado, o eixo prático evidencia a experiência de histórias alternativas, construtivas e contributivas, ricas e amplas, exatamente porque se libertam de paradigmas e conectam-se aos desejos daqueles que vivem a experiência amorosa na homossexualidade. Portanto, as histórias saturadas de problemas, que ainda colocam as relações homossexuais como inaptas ao que se denomina família, podem ser re-narradas como histórias de múltiplas possibilidades e habilidades para se viver em família. Referências: Beloqui, J. A. (2008, Junho). Risco relativo para AIDS de homens homo/bissexuais em relação aos heterossexuais. Rev. Saúde Pública, 42(3), 437-442. França, I. L. (2007, Junho). Sobre “guetos” e “rótulos”: tensões no mercado GLS na cidade de São Paulo. Caderno Pagu, 28, 227-255. Grupo Dignidade. (2008). Uma história de Dignidade. Curitiba: Grupo Dignidade. Madureira, A. F. A. & Branco, A. M. C. U. A. (2007, Março). Identidades sexuais não-hegemônicas: processos identitários e estratégias para lidar com o preconceito. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 23 (1), 81-90. Morgan, A. (2007). O que é terapia narrativa?: uma introdução de fácil leitura. Porto Alegre: Centro de Estudos e Práticas Narrativas. (Obra original publicada em 2000). Nichols, M. P. & Schwartz, R. C. (2007). Terapia Familiar: conceitos e métodos (7a ed.). (M. A. Veronese, Trad.). Porto Alegre: Artmed (Obra original publicada em 1998). Reid, K. (2008). Dançando a nossa música: um projeto com famílias homoafetivas. (A. Muller, Trad. livre). The International Journal of Narrative Therapy and Community Work, 2, 61-68. Reis, T. & Harrad, D. (1996). Direito de amar: a história de um casal gay. Curitiba: Grupo Dignidade. Roseli-Cruz, A. (2011, Abril). Homossexualidade, homofobia e agressividade do palavrão: seu uso na educação sexual escolar. Revista Educação, 39, 73-85.