Esta pesquisa teve como objetivo estudar o uso do dinheiro pelas mulheres nos casamentos de dupla carreira. O pensamento sistêmico com enfoque familiar associado aos conceitos teóricos da Psicologia Econômica (Ferreira, 2008) e Psicologia do Dinheiro ( Furnham e Argile, 2007) nos deram o suporte teórico para analisar as informações obtidas a partir de uma pesquisa qualitativa com entrevistas semi estruturadas com 7 mulheres em casamentos de dupla carreira (Diniz, 1999), entre 40 e 50 anos, casadas há mais de 10 anos com homens nas mesmas condições profissionais, todas com filhos entre 7 e 16 anos, vivendo na cidade de São Paulo, Brasil. Os dados nos mostraram que a despeito da aura de modernidade dos casamentos de dupla carreira, bem como do discurso de auto suficiência e independência das mulheres, quando o assunto envolvia dinheiro ainda existiam dificuldades a serem transpostas, pois elas delegavam aos maridos os cuidados pelo seus salários, alegando desconhecimento em como usar com dinheiro, especialmente em relação a investimentos. Para Prince (1993) há diferenças marcantes nos estilos de homens e mulheres lidarem com o dinheiro, uma vez que para elas o dinheiro sempre foi visto como o “dinheiro para alfinetes” e para os filhos. Muitas alegam ser desagradável falar sobre isto, evitando fazer o Zelizer (2009) classifica de “boas combinações” (p.142). Reproduzindo as questões de gênero, observou-se ainda a tradicional divisão de responsabilidades na administração do dinheiro, como expressão cultural de um modelo que levado à conjugalidade, ainda que em moderno (dupla carreira), se mantém tradicional. De fato, as mulheres tem conquistado muitos espaços, vivendo histórias diferentes de suas mães e avós (Meirelles,2001).Passados onze anos, nossos resultados, constantemente revisitados pelas pesquisas que realizamos ainda mostram-se consistentes com os observados na maioria dos países (Furnham e Argyle, 2007). O uso do dinheiro por mulheres casadas e com filhos precisa ser revisto, principalmente se pensarmos nas consequências de tais atitudes em situações de divórcio, viuvez ou envelhecimento. Mais do que nunca, nós terapeutas de casais, não podemos negligenciar este tema, considerando-o importante fator à saúde mental do não só das mulheres, mas do casal e da família. Referências bibliográficas Diniz,G.R.S.(1999).Homens e mulheres frente à interação casamento-trabalho:aspectos da realidade brasileira. In T.Féres-Carneiro (org). Casal e família- entre a tradição e a transformação. Rio de Janeiro: Ed. Nau. Ferreira,V.R.M. (2008). Psicologia Econômica: estudo do comportamento econômico e da tomada de decisão. Rio de Janeiro: Elsevier. Furnham, A., & Argyle, M.(2007). The Psychology of Money. 3rd.Reprinted. New York: Routledge. Meirelles, V. M. (2001). Feminino superlativo: mulher, família e carreira. Dissertação de mestrado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, Brasil. Prince, M.(1993). Women, men, and money styles. Journal of Economic Psychology, 14, pp.175-182.. Zelizer, V.A. (2009). Dinheiro, Poder e Sexo. Cad. Pagu, 32, Jun, 135-157.