A questão da comunicação é, antes e acima de tudo, uma questão ética. A maneira como nos comunicamos determina o lugar que damos ao outro na relação, define a nós mesmos nesta relação e cria um espaço a ser preenchido. A linguagem é, antes de tudo, dirigir-se a um outro, é um chamado. Um convite. A linguagem é o lugar do encontro com o Outro. Com o estrangeiro e o desconhecido do outro. O processo psicoterapêutico é um processo dialógico. Como tal, revela dois modos de conhecer, dois logos, dia-logos. Quais as conexões possíveis? O objetivo deste trabalho é colocar em questão os elementos que compõem o fenômeno da comunicação que tem lugar no encontro terapêutico, tomando a linguagem como recurso fundamental para o exercício do fazer psicoterápico. Se, por um lado, aqueles que procuram uma psicoterapia desenvolveram, paulatinamente, um modo de ser que os habilita e autoriza, por outro lado, estiveram diante de situações que os desafiaram, levando-os a buscar no estrangeiro, num campo ainda desconhecido, novos recursos que permitam superar as dificuldades e limites diante dos quais se encontram. Tanto para reconhecer e valorizar o antigo, base para a aproximação com o novo, como para suportar o contato com o desconhecido, que provoca medo e insegurança em relação a tudo o que não é previsível, portanto, além de nossa capacidade de controle, é necessário assumir uma atitude de acolhimento. A ética do cuidado pressupõe alteridade, uma abertura para o estrangeiro que faz morada em cada pessoa que nos procura enquanto terapeutas. Precisamos estar atentos ao fato de que essa é uma experiência especular. Nossos pacientes também experimentam a nós próprios e às novas idéias e maneiras de agir como estrangeiras, podendo sentir-se expatriados. Não conheço como eles conhecem o mundo. Também não conheço o mundo tal qual eles o conhecem. Em seu mundo, sou estrangeira. Como posso falar em meu idioma e ser compreendida? Através da reflexão sobre a práxis do ofício de psicoterapeuta acumulada nos últimos vinte anos e do estudo teórico, procurarei lançar luz sobre a comunicação como ferramenta clínica, apontando desafios, limites e possibilidades. Bibliografia: BENGHOZI, P. - Malhagem, filiação e afiliação. Vetor Editora, São Paulo, 2010. BERGER, M.(org) - Beyond the Double Bind, Nova York: Brunner/Mazel, 1978. CEBERIO, M. R.; - WATZLAWICK, P. La construcción del universo. Herder Editorial, Barcelona, 1998/2006. WATZLAWICK, P. - Es real la realidad? Confusión, desinformación, comunicación. Herder Editorial, Barcelona, 1979/2009. WATZLAWICK, P. – La coleta del barón de Münchhausen. Herder Editorial, Barcelona, 1988/1992.