61. PARENTALIDADE ADOTIVA E ADOLESCÊNCIA: UM ESTUDO PILOTO

REBECA NONATO NONATO MACHADO. PUC-RIO, RIO DE JANEIRO - RJ - BRASIL.

O presente trabalho é proveniente de uma pesquisa de Doutorado, que vem sendo realizada, sobre a vivência da parentalidade e da filiação adotiva, na perspectiva de pais, cujos filhos estão no período da adolescência. Dentro deste contexto temático, o objetivo geral do estudo é, justamente, compreender a vivência da parentalidade e da filiação adotiva diante de rupturas e de transformações características da adolescência, compondo uma fase crítica e estruturante para todo o contexto familiar. Até o momento, foi realizado um estudo piloto, por meio do qual foi possível pensar a adequação da metodologia qualitativa estabelecida. Nesta comunicação serão apresentadas algumas questões que se destacaram no estudo piloto, no qual foram realizadas 3 entrevistas semi-estruturadas com pais adotivos, tendo sido os dados analisados pelo método da análise de conteúdo (Bardin, 1977/2010). A partir das entrevistas, foi possível perceber a presença de uma ambivalência em relação à adoção, assim como, um medo do preconceito e de os filhos serem estigmatizados. A literatura usada como referência está calcada em abordagens da psicoterapia de família e da psicanálise, sendo desenvolvida em três eixos temáticos: os processos psíquicos organizadores da parentalidade e da filiação, as vicissitudes da adoção, o período da adolescência. Enfatiza-se que a parentalidade não pode ser pensada sem a filiação, porque para ser pai/mãe é preciso existir o filho, é preciso haver o próprio reconhecimento, e o reconhecimento da criança, de ocupar este lugar (Gutton, 2006; Legendre, 1985;Lévy- Soussan, 2006). Em toda parentalidade haverá uma desilusão por parte dos pais ao constatar que o filho real é diferente do filho imaginário. Entretanto, na situação adotiva a desilusão pode ser justificada pela ausência do biológico (Marinopoulos, Sellenet e Vallée, 2003; Levy e Féres-Carneiro, 2001). Propõe-se a ideia de que para fazer essa passagem do investimento narcísico para o investimento objetal, os pais adotivos talvez precisem reconhecer algo de si próprio na criança. Na adolescência ocorrerá um enfraquecimento das bases narcísicas do adolescente, cujo impacto é intenso para o jovem, fragilizando-o psiquicamente. O grau de sensação de vulnerabilidade, vivida pelo adolescente, dependerá do grau de fragilidade da família, ou seja, de sua capacidade para exercer a função continente. Referências: Bardin, L. (1977). Análise de conteúdo. Lisboa: Edição Revista e Actualizada, ed. 4, 281p, 2010. Gutton, P. (2006). Parentalité. Revue Adolescence, v.24, n.1, 9-32. Legendre, P. (1985). L’inestimable objet de la transmission – Etude sur le príncipe généalogique en Occident. Paris: Fayard, Leçon IV, 2 ed., 409 p, 2004. Levy, L. e Féres-Carneiro (2001). L’adoption: entre fantasme familiaux et réalité juridique. Revue Le divan familial, n.6, 83-93. Levy- Soussan, P. (2006). La filiation à l’épreuve de l’adolescence. Revue Adolescence, v.24, n.1, 101-110. Marinopoulos, Sellenet E Vallée (2003). Moïse, oedipe, superman... de l’abandon à l’adoption. Paris: Fayard, 352p.