Os casais chegam ao consultório trazendo suas histórias de amor, dor e sofrimento vividas na relação com o parceiro/a. A expectativa de viver um amor romântico por toda a vida, potencializa o mal estar e as frustrações surgidas na convivência. Mas considero que ”o amor é uma crença emocional e, como toda crença, pode ser mantida, alterada, dispensada, trocada, melhorada, piorada ou abolida. O amor foi inventado... Nenhum de seus constintuintes afetivos, cognitivos ou conativos é fixo por natureza. Tudo pode ser recriado.”(Freire Costa, l998). Partindo daí e informada pelo construcionismo social, pela psicanálise e pela ferramenta do “efeito performativo da linguagem” me proponho aqui a apresentar o meu trabalho com casais em terapia, entendendo que sistemas humanos são sistemas linguísticos e que cada casal constrói sua relação no tempo através da linguagem, criando vocabulários que descrevem sua história como verdadeira e única. Trabalhar a relação de cada casal implica em um momento único entre terapeuta e clientes: como se descrevem como casal para este terapeuta; como se reconhecem ou não na descrição do outro; como eu terapeuta passo a fazer parte dessa relação. Meu objetivo neste trabalho é apresentar um formato de terapia de casal que leva em conta a singularidade da relação terapeuta-cliente que estabeleço com cada casal: qual o efeito em mim da escuta do discurso de cada um; qual o efeito da minha fala na escuta do casal e qual o efeito que o discurso de um provoca no outro; o jogo relacional do casal entre eles e deles comigo. Apresentarei fragmentos clínicos de sessões de casais em terapia, articulando com as teorias presentes na minha prática. Meus pressupostos: o que ouço do relato de cada um é absolutamente verdadeiro e singular; a história de como cada parceiro escolheu o outro me informa sobre eles; a minha história de casal está presente na relação com eles; a minha opinião sobre eles e sobre cada um está sempre presente, mas atenta ao “timming” para trabalhar com estas afetações. Bibliografia: Anderson, H. Conversação, Linguagem e Possibilidades um enfoque pós-moderno da terapia, São Paulo: Roca, 2011 Costa, J. F. “Sem Fraude Nem Favor” – Rio de Janeiro, Ed.Rocco 1998 Araujo, N e Morgado,N “A Escuta Terapêutica na Interlocução Clinica:Uma Contribuição ao Construcionismo Social Pelo Viés do Pragmatismo Linguístico”, Revista Nova Perspectiva Sistêmica no. 26, Novembro 2006 Anderson,H e Goolishian,H.“Los Sistemas Humanos como Sistemas Lingüísticos: Implicaciones para la Teoria Clinica y la Terapia Familiar”, Revista de Psicoterapia, Volume II n° 167 McNamee,S e Gergen Kenneth J. “La Terapia Como Construcción Social” – Barcelona, Ed. Paidós 1996