Num ciclo esperado da vida os casais se unem e na sequência constroem suas famílias, contudo quando são interrompidos por situações não esperadas como diagnósticos de infertilidade ou uma dificuldade para conceber um filho sem causa aparente, costumam partir na busca da concretização desse projeto de vida e passam a conviver com uma família imaginária, com filhos “vivos e reais,” presentes nas suas fantasias. São filhos que possuem nomes, seguros de vida, enxovais prontos, escolas pré-estabelecidas e toda uma história já construída. O caminho percorrido por esses casais se observa nitidamente nas clínicas de Reprodução Assistida e, como profissional atuante na área, venho desenvolvendo um modelo de atendimento que visa uma aproximação dos casais em tratamento. Através do pedido de elaboração de um desenho da família ideal e de questionamentos de como estão estruturando os projetos de vida para esta passagem de casal para família, tenho introduzido a chance de um olhar mais rico e integrador à estes casais. A proposta de atendimento se baseia na compreensão e vizualização do “sonho”, “do ideal que procuram, e quais fantasias e mitos surgem no decorrer do caminho. Os questionamentos são direcionados ao casal e o desenho é realizado individualmente, na sequência conduzimos uma avaliação do desenho, onde vizualizamos fatores que se mostram com mais evidência durante os tratamentos, como abortos realizados no passado, abortos espontâneos, o papel imaginário que o filho sonhado ocupa na relação e outros fatores decorrentes da estrutura do casal ou da família de origem de ambos. Esse trabalho vem sendo construido e consolidado no decorrer de quatro anos de experiência numa mesma clínica de Reprodução Assistida, atendendo a demanda de uma clientela de boa condição sócio-cultural e estabilidade econômica.