29. QUANDO AMAR NÃO É O SUFICIENTE: RELAÇÕES DE AMOR E PODER NA DEFINIÇÃO DA GUARDA JUDICIAL

SHEILA TERESA CARMONA SIMOES. INFAPA, PORTO ALEGRE - RS - BRASIL.

A busca pela Terapia Sistêmica de Família (TSF) para resolver conflitos oriundos de uma separação mal resolvida e a definição da guarda judicial da criança são os temas deste estudo de caso, que traz nuances clássicas e contemporâneas, como a complexa estrutura de amor e poder nas relações familiares. Como objetivos pretendeu-se compreender o impacto da intervenção terapêutica nas relações familiares e estudar as imbricações das relações mãe-filha e pai-filha diante da separação conjugal. E, também, o conflito de lealdade estabelecido na expressão do desejo da filha, quando escolhe morar com o pai e a madrasta em detrimento à mãe. Foi utilizado o método qualitativo de análise de conteúdo colhido nas sessões de TSF no percurso de um ano de atendimento oferecido à família. Os participantes são de classe social média, composta pela filha, mãe, pai, madrasta, irmã recém-nascida por parte de pai. A técnica do desenho (Di Leo, 1991) foi aplicada como importante instrumento de expressão da criança, além do Baralho das Emoções (Caminha & Caminha, 2011) como recurso auxiliar nas histórias dos desenhos contadas pela criança. O pai assinou o Consentimento Livre Esclarecido, atendendo à resolução n⁰ 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, em nome dos demais membros. Durante os atendimentos a família mostrou-se com muitas dificuldades de relacionamento, prejudicando a comunicação entre seus membros e gerando sintomas de ansiedade de separação na criança, tornando-a paralisada no sistema (Minuchin, 1990). Através dos desenhos a fragilidade da relação familiar é explicitada, mostrando um padrão conflitante (Gzybowsky, 2011). O processo judicial durou seis meses, entre entrevistas e audiências com o pai, a mãe e a criança. A decisão conferida à família foi de guarda compartilhada, com moradia fixada na casa do pai e visitação livre para a mãe. Neste caso, a decisão judicial será um voto de confiança para o casal parental seguir aprendendo a se relacionar, o que, de fato, foi a recomendação terapêutica para a família. Este estudo mostrou que a TSF oferece recursos para ajudar o casal parental a remodelar sua forma de lidar com as dificuldades e expectativas diante do contexto de separação conjugal. Além das imagens generosas proporcionadas pelos desenhos, este relato também trará o Self da terapeuta na emoção que fez parte do tratamento da família.