As intervenções na Justiça em casos de violência conjugal são marcadas pela incompreensão da demanda da vítima. Os profissionais exigem um claro posicionamento das mulheres para a permissão (ou não) da persecução penal do agressor, sem levar em consideração que elas podem estar aprisionadas a um padrão relacional contraditório e com grande investimento afetivo. Nessa situação, a mulher não tem condições de avaliar o risco da dinâmica violenta e esclarecer os profissionais sobre suas demandas à Justiça. A aplicação da Teoria do Duplo-Vínculo é fundamental para facilitar as condições de reflexão das mulheres sobre a relação conjugal e para avaliar os riscos da violência. Consideramos três critérios de duplo-vínculo: 1) Uma pessoa de valor afetivo importante; 2) Mensagens paradoxais; e 3) Impossibilidade de refletir sobre a relação. Objetivamos nesse estudo compreender o impacto da história de uma vítima na nomeação da própria história conjugal violenta por outras mulheres, por meio da leitura, resposta a questionário e reflexão grupal sobre o livro “Mas ele diz que me ama”. As participantes foram 20 mulheres vítimas de violência que estavam em acompanhamento psicossocial encaminhadas pela Justiça. Constatamos quatro categorias de títulos apresentados pelas participantes que representaram os paradoxos com a violência: promessas do parceiro; ambiguidade de sentimentos; confrontação com a realidade violenta; e perspectiva de nova vida. As mulheres iniciaram o processo de conscientização do paradoxo entre amor e violência, passo fundamental para se libertarem do aprisionamento e assujeitamento gerado pela dinâmica conjugal violenta. Referências: Angelim, F.P. (2009). Mulheres vítimas de violência: Dilemas entre a busca da intervenção do Estado e a tomada de consciência. Tese de doutorado. Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília, Brasília. Angelim, F.P. & Diniz, G.R.S. (2010). A Teoria do Duplo-Vínculo como referencial teórico para intervenções em casos de violência contra mulheres. Em I. Ghesti-Galvão & E.C.B Roque (orgs.). Aplicação da lei em uma perspectiva interprofissional: Direito, psicologia, psiquiatria, serviço social e ciências sociais na prática jurisdicional. (pp. 397 – 412). Brasília: Editora Lumen Juris. Guimarães, F. (2009). “Mas ele diz que me ama...”: impacto da história de uma vítima na vivência de violência conjugal de outras mulheres. Dissertação de mestrado. Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília, Brasília. McGoldrick,M. (1994). As mulheres e o ciclo de vida familiar. Em B. Carter & M. McGoldrick. O ciclo de vida familiar: uma abordagem para a terapia familiar. Porto Alegre: Artes Médicas.