34. O ADOECIMENTO DO CORPO COMO FORMA DE MANUTENÇÃO DA HOMEOSTASE FAMILIAR

BRUNA GONTIJO MAGALHÃES; JULLIANA DE PAULA MEDEIROS. UNIUBE, UBERABA - MG - BRASIL.

Nesse trabalho visamos discutir, a partir do estudo de um caso clínico, os aspectos sistêmicos do sintoma de somatização de um paciente adulto, do sexo masculino atendido na Clínica Integrada de Assistência e Docência (CLIDA) vinculada ao curso de Psicologia da Universidade de Uberaba, no ano de 2011. O paciente foi encaminhado a CLIDA pelo médico coloproctologista, por apresentar uma preocupação infundada, do ponto de vista biológico, com o desenvolvimento de um câncer gástrico. A condução dos atendimentos se deu através de sessões semanais de 50 minutos de duração e supervisões semanais. A família nuclear era composta de um casal de filhos (21 e 18 anos, respectivamente) e a esposa (45 anos). A filha (18 anos) morava com o companheiro e um filho do casal (3 anos) e durante o processo psicoterápico o genro morreu em um acidente automobilístico. As técnicas empregadas foram os questionamentos terapêuticos e as metáforas; prescrições de tarefas de casa; técnica da colagem e ritual de despedida (Tomm, 1988; Rosset, 2008; Andolfi, Ângelo, Menghi & Nicolo-Corigliano, 1989; Groisman, 2003). Teve-se como hipótese sistêmica que o adoecimento possibilitava ao paciente manter-se ainda indiferenciado de sua própria família de origem. O relacionamento do paciente com essa família era distante, porém o mesmo reproduziu o padrão de interação ali vivenciado nos relacionamentos construídos em sua família nuclear e em diversos ambientes de trabalho. A relação do casal apresentava conflitos não manifestos. As dores gástricas eram atribuídas pela esposa a uma punição ao paciente por ter se envolvido em um caso extraconjugal no passado. Por sua vez, o paciente procurava se colocar no lugar do doente para que sua esposa pudesse ocupar a posição de sua cuidadora. Com a morte do genro, o paciente atribuiu a si o papel de cuidador do neto, mas o que percebemos foi a permissão para explicitar sua vinculação a esse genro, ao vivenciar a dor de sua morte, e ainda, a ocupação do “lugar do pai” (Groisman, 2003). Observamos em diferentes momentos do processo psicoterápico, a construção de autopunições associadas às vivências de prazer e de autocuidado; e ainda, um padrão interacional em que as trocas relacionais se caracterizavam por eternas dívidas de gratidão. Compreendemos que o paciente apresentou um padrão de funcionamento em que a somatização tinha a função de sustentar o distanciamento do mesmo de suas vivências afetivas. REFERÊNCIAS Andolfi, M.; Ângelo, C.; Menghi, P. & Nicolo-Corigliano, A. M. (orgs.). (1989). Por trás da máscara familiar: um novo enfoque da terapia de família. Porto Alegre: Artes Médicas. Groisman, M. (org.). (2003). Além do Paraíso: Perdas e Transformações na Família. Rio de Janeiro: Núcleo de Pesquisas. Rosset, S. M. (2008). Terapia Relacional Sistêmica: Famílias, casais, Indivíduos, Grupos. Curitiba: Editora Sol. Tomm, K. (1988). Interventive Interviewing: Part 111. Intending to Ask Lineal, Circular, Strategic or Reflexive Questions. Family Process Journal. 27:1-15.