O fenômeno da dependência química é crescente e está modificando o olhar clínico na medida em que perpassa o indivíduo, vislumbra o sistema familiar e sua dinâmica disfuncional. Pesquisas apontam para um número elevado de familiares de dependentes químicos com sintomas de ansiedade e depressão. Este estudo verificou a intensidade dos sintomas de ansiedade e depressão em mães de usuários de substâncias psicoativas ilícitas, que frequentam grupos de apoio. A pesquisa, de caráter quantitativo descritivo, envolveu 54 mulheres, com idades entre 33 e 78 anos (M = 50,06; DP = 12,22), que frequentam grupos de apoio para familiares de dependentes químicos. Aplicou-se um questionário sócio demográfico e as escalas Beck de ansiedade (BAI) e depressão (BDI). Os dados foram analisados através de estatísticas descritivas (frequências, médias e desvios-padrão) e análises estatísticas inferenciais (correlação de Pearson e testes de comparação de médias: teste t de Student e ANOVA). Os resultados revelaram que o escore médio da BAI foi de 22,74% e da BDI de 17,9%, e a distribuição de ambas as varáveis foi mais próxima da apresentada por grupos clínicos. Participantes que declararam não trabalhar apresentaram médias mais altas em depressão do que aquelas que declaram exercer atividade remunerada (p < 0,05). Tal comparação faz com que se possa refletir e avaliar a questão de que as mães que não exercem atividade remunerada podem estar expostas a um convívio diário, no ambiente familiar, com o dependente químico, aumentando a intensidade dos sintomas depressivos. As mães de usuários de crack apresentaram escores significativamente mais altos em ansiedade (p < 0,05). Para as demais substâncias, as diferenças não foram significativas. O crack, desse modo, está “mostrando-se o causador de altos níveis de estresse nas pessoas que vivem próximos aos dependentes” (Oliveira e Elgues, 2007, p.6), pois causa prejuízos econômicos, sociais e danos à saúde do drogadito (Etchepare, Dotto, Domingues & Colpo, 2011). Na perspectiva sistêmica, na medida em que a dependência química do usuário evolui ocorrem mudanças no sistema familiar (Guimarães, Costa, Pessina e Sudbrack, 2009), e sabemos que tratando a dependência do vínculo fica mais fácil tratar a dependência química (Humberg, 2003). Portanto, os profissionais da área da saúde, diante desse grave problema, devem pensar em novas estratégias de tratamento e intervenções em grupos para as famílias dos dependentes, pois elas têm sofrido, de forma direta, com os danos causados pelas substâncias psicoativas ilícitas e com o abuso de álcool. Referências Bibliográficas Etchepare, M., Dotto, E. R., Domingues, K. A., & Colpo, E. (2011). Perfil de adolescentes usuários de crack e suas consequências metabólicas. Revista da AMRIGS, 55 (2), 140-146. Guimarães, F. L., Costa, L. F., Pessina, L. M., & Sudbrack, M. F. O. (2009). Famílias, adolescência e drogadição. Em L. C. Osorio, & M. E. P. Valle. Manual de terapia familiar (pp. 351-365). Porto Alegre: Artmed. Humberg, L. V. (2003). Dependência do vínculo: uma releitura do conceito de co-dependência. Dissertação de Mestrado, Faculdade