14. CRACOLÂNDIA: ERROS E DESACERTOS NAS AÇÕES DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE SP

RUY DE MATHIS. ABRAP, SÃO PAULO - SP - BRASIL.

As drogas são novas? Não. A Cracolândia é nova? Não. Pergunto: onde aconteceu o descompasso da negligencia e da desatenção social para que chegassemos ao ponto de epidemia que assola não só esse local, mas milhares de outros pontos em todo o Brasil? Num olhar mais detalhado podemos observar que a região que hoje é chamada de cracolândia, localizada em  ruas do centro de São Paulo, como a rua Aurora, rua Vitória, rua dos Gusmões e outras, há mais de cinquenta anos vem sofrendo sucessivas degradações, tornado-se um espaço ocupado por subhabitações que abrigavam prostituição de baixíssimo nível, alcoolismo e todos os tipos de ações do submundo. Isso tudo, sendo uma região servida por uma grande Estação de Trem - a da Luz, e por metrô, que também abrigava outra importante Estação de trem - a Sorocabana e a Rodoviária Central da cidade, além de comportar o maior centro de comércio de eletro eletronicos da América do Sul, a Rua Santa Efigênia. A entrada do crack veio complentar e sacramentar de modo definitivo esse espaço de flagelo, ocupado há muito, por seres humanos esquecidos de políticas publicas. Em outubro de 1993, este autor voltava dos Estados Unidos impressionado com a devastação que uma droga - o crack - ocasionava em São Francisco e Nova York. Na condição de Conselheiro do CONEN, hoje CONED (Conselho Estadual sobre Drogas), relatou sua experiencia e alertou sobre o perigo e devastação dessa droga ainda pouco conhecida em nosso país. Esse alerta está registrado em ata, e podemos constatar que nada, ou quase nada, foi feito num nível preventivo/educacional. Passados vinte anos, em treis de janeiro deste ano, membros do segundo escalão dos governos Estadual e Municipal, resolveram acabar com a cracolândia, invadindo a região para sanear os pontos de venda e consumo de drogas. Os resultados foram vastamente mostrados pela midia. Temos hoje apenas na capital de São Paulo, perto de cinco mil pontos de consumo de crack, segundo fontes oficiais. Foram ignorados a doença, os doentes, a legislação, o uso urbano do solo, a assistencia social e por fim, as familias, direta e indiretamente envolvidas na questão. Este trabalho pretende trazer, através de fatos e fotos, elementos para reflexões que possam ser uteis nas gestões publicas, utilizando o conhecimento profissional de especialistas em dependencia quimica e em familias.