DESFAZENDO A RATOEIRA O trabalho, caracterizado como um estudo de caso, aborda a problemática vivida por um casal em que o homem/marido apresenta problemas relacionados a dependência química. Inicialmente a mulher procura ajuda terapêutica num momento bastante difícil, em que o marido, apesar das tentativas de abandono das drogas, vivia recaídas freqüentes e bastante graves, utilizando drogas cada vez mais pesadas e colocando-se em situações de risco. Assim também a vida conjugal encontrava-se sob permanente ameaça. A adesão a qualquer tipo de ajuda oferecida a ele era restrita, de modo que essa problemática acompanhara o casal desde o início de seu relacionamento – ou melhor, ela já constituía um padrão relacional na história familiar do marido – com alguma alternância entre períodos de maior ou menor intensidade. O desenrolar do processo, sustentado em fundamentos teórico-metodológicos sistêmicos (Ausloos, 1996, Prado, 1996, Relvas, 1999, Schwartz, 2004, Walsh, 2005) aponta para uma função de interdependência entre os cônjuges, em que a dependência química assumia a função de manutenção da homeostase conjugal. Ele, que por sua fragilidade, vinha sendo objeto de cuidados por parte da esposa ao longo de todo o casamento; ela, na condição de cuidadora/controladora, concentrando nele todo seu tempo e seus investimentos. Ele como a tentar escapar de uma ratoeira e ela insistentemente procurando capturá-lo. Eis que no desenrolar do processo ele vai aos poucos reconhecendo explicitamente sua fragilidade e necessidade de apoio, e se permitindo ser ajudado em direção ao crescimento; ela, com grande dificuldade, elabora recursos para enfrentar as eventuais recaídas do marido quanto ao uso de drogas, e também para afrouxar a vigilância e deixá-lo cuidar de si. Então, o casal vai rompendo com o padrão de funcionamento que desenvolvera, e lenta e gradualmente começa a sustentar as mudanças realizadas. Mudanças que agora permitem a ambos voltar suas atenções para um terceiro: começam a construir o projeto de um filho. Palavras-chave: Dependência química, padrão relacional, abordagem sistêmica. Referências Ausloos, G. (1996). A competência das famílias. (J. Coelho, Trad.) Lisboa: CLIMEPSI. Prado, M. C. C. de A. (1996). Uma introdução aos qüidprocós conjugais. In: T. Féres-Carneiro (Org.). Relação amorosa, casamento, separação e terapia de casal. Rio de Janeiro: Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Psicologia. (pp. 17-24). Relvas, A. N. (1999). Conversas com famílias: discursos e perspectivas em terapia familiar. Porto: Afrontamento. Schwartz, R. C. (2004). Terapia dos sistemas familiares. (M. G. Armando, Trad.). São Paulo: Roca. Walsh, F. (2005). Fortalecendo a resiliência familiar. (M. C. Lopes, Trad.). São Paulo: Roca.