Introdução: É consenso na literatura que a Dependência Química (DQ) é um transtorno multifatorial; no caso do crack, seu alto poder de dependência é um dos fatores mais relevantes. Estudos apontaram que os cuidados parentais relacionados à percepção de afeto, proteção, controle e autoritarismo são preditores para desenvolvimento e manutenção da DQ. Desde 1978 ficou evidenciado que o uso de drogas ilegais como a heroína está intimamente associado ao tipo de relacionamento familiar disfuncional caraterístico de “Famílias Adictas”. Sujeitos com a percepção de cuidados parentais de melhor qualidade e com estrutura familiar mais funcional são considerados mais resilientes, apresentando melhores recursos psicológicos para lidar com futuras adversidades. Objetivo: Investigar a percepção da qualidade do vínculo parental (afeto e controle) em usuários de crack e comparar com a de não usuários, através de um estudo de caso-controle onde o fator de estudo é o estilo de parentagem e o desfecho é ser usuário de crack. Método: Participaram 198 usuários de crack internados para tratamento que preencheram critérios diagnósticos para DQ, segundo a DSM IV-TR. Esse grupo foi comparado a 104 não usuários de drogas (controles). Os sujeitos foram avaliados através do Parental Bonding Instrument (PBI) que avalia a percepção dos cuidados parentais até os 16 anos e do Addiction Severity Index 6 (ASI6), que avalia a gravidade do uso de drogas. Resultados: A análise de Regressão Logística Ajustada demonstrou que usuários de crack têm muito mais chance (ORadj= 9,68; IC 95%, 2,82;33,20) de perceberem suas mães como negligentes e também mais chance de perceberem seus pais como sendo controladores e sem afeto, em comparação com a percepção de parentagem ótima predominante no grupo de não usuários (ORadj: 4.71, IC 95%: 2.17,10.22). Conclusão: A percepção de carências afetivas maternas e autoridade sem afeto paterna pode estar associada a uma tendência do indivíduo a reagir com menos segurança diante de eventos estressores, devido às precárias relações interpessoais, recorrendo ao uso de crack. CPAD: Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas da UFRGS Financiamento: Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas SENAD/ 10/0002 Referências Choquet, M., Hassler C., Morin, D., Falissard, B., Chau, N. (2008). Perceived parenting styles and tobacco, alcohol and cannabis use among french adolescents: gender and family structure differentials. Alcohol Alcohol, 43(1), 73-80. Ribeiro, M., Laranjeira, R. (2010). O tratamento do usuário de crack. São Paulo: Casa Leitura Médica. Stanton, M. D., Todd T. C., Heard, D. B., Kirschner, S., Kleiman, J. I., Mowat, D. T., Riley, P., Scott, S. M., Van Deusen, J. M. (1978). Heroin addiction as a family phenomenon: a new conceptual model. Am J Drug Alcohol Abuse, 5(2), 125-150.