21. DIALÉTICA FAMÍLIA-CRIANÇA-ESCOLA: PERPETUAÇÃO OU TRANSFORMAÇÃO DO CONHECIMENTO?

SILOE PEREIRA. UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL (UCS), CAXIAS DO SUL - RS - BRASIL.

O trabalho objetiva contribuir para a compreensão de inter-relações possíveis entre vivências familiares da criança e seu modo singular de fazer frente aos desafios de aprender. De cunho eminentemente teórico, situa na literatura e sistematiza elementos conceituais advindos de referenciais psicanalíticos (Freud, 1976; Lacan, 1998) e sistêmicos (Vasconcellos, 2006), ressalvadas diferenças entre essas duas perspectivas teóricas, bem como da psicologia da aprendizagem na ótica sociointeracionista (Vygotsky, 1989; Maturana & Varela, 1997). Estabelece interlocuções entre esses referenciais, perspectivando relações de aprendizagem que vão ser construídas pela criança, e que direta e indiretamente repercutirão nas suas relações com o saber e na sua vida escolar. Mediante tais contributos, com ênfase na transmissão psíquica entre gerações (Kaës, 2001), discute o que cabe a uma criança no processo de constituir-se/aprender em família, para com esses alicerces aventurar-se nas aprendizagens escolares. E orienta-se pelas perguntas: “Estaria a criança condenada a repetir e perpetuar padrões herdados de sua família e outros ensinantes significativos, em suas relações com o universo do conhecimento? Ou poder-se-iam antever intervalos possibilitadores de aberturas para reconfiguração de modos de interagir e construir a realidade?”. Sabe-se que o processo de aprender, inaugurado com o nascimento, será contínuo e decisivo durante a vida de uma pessoa. Então, a aprendizagem assume relevância vital para os humanos bem antes da sua entrada na escola formal. É no contexto da família que se realizam as primeiras e fundamentais aprendizagens de uma criança. Seja pelo dito, pelo não dito, pelo negado, aprendizagens de diferentes naturezas se efetivam durante o ciclo vital, particularmente nos primeiros anos de vida, sob predomínio das interações intrafamiliares. À luz desses pressupostos é discutido o continuum que vai desde as aprendizagens mais remotas de uma criança até suas incursões pelo universo escolar. Assim, o reconhecimento dessas implicações é fundamental para que no âmbito das aprendizagens escolares sejam potencializadas vivências facilitadoras à criança de se fazer centro de referência donde a realidade é gerada, de modo a que ela disponha de elementos para se constituir autora/construtora da realidade. E para que o processo de aprender tendo sucesso não venha a se constituir em vivência traumática para a criança, sua família, e mesmo para a escola. Referências Freud, S. (1976). O ego e o id e outros trabalhos. Edição Standard Brasileira das Obras Completas de Sigmund Freud. Vol. XIX. Rio de Janeiro: Imago. Kaës, R. (2001). Transmissão da vida psíquica entre as gerações. São Paulo: Casa do Psicólogo. Lacan, J. (1998). O estádio do espelho como formador da função do eu. In: J. Lacan Escritos. Rio de Janeiro: Zahar. Maturana, R. H. & Varela, F. (1997). De máquinas e seres vivos: autopoiese – a organização do vivo. 3a ed. Porto Alegre: Artes Médicas. Vasconcellos, M. J. (2006). Pensamento sistêmico: o novo paradigma da ciência. 5a ed. Campinas: Papirus. Vygotsky, L. S. (1989). A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes.