Este trabalho é resultado de uma pesquisa qualitativa que teve por objetivo compreender, sob o referencial da Psicologia Sistêmica, o modo como pais e mães cujos filhos se encontram em transição para a vida adulta percebem e lidam com as mudanças reveladas por seus descendentes. Trata-se de uma compreensão intergeracional dos processos de construção da adultez, tendo em vista as transformações contextuais que hoje desenham um novo cenário, mais complexo e instável, para a constituição da identidade adulta. Por meio de entrevistas semiestruturadas, foram pesquisadas sete famílias paulistas, representadas por quatro casais e três mães solteiras. Os resultados indicaram que mudanças relativas à concepção do casamento, da independência financeira e da saída da casa dos pais como tradicionais marcos de transição para a maturidade favorecem a ressignificação do “ser adulto”, que passa a ser compreendido como resultado de um processo alinhavado pelo valor moral da responsabilidade. A ideia da transição para a adultez como um movimento fundamentado na diferenciação do indivíduo em relação à família de origem ganha espaço, possibilitando aos pais reconhecerem os filhos como adultos, mesmo a despeito de não haverem estes transposto os tradicionais marcos de transição. Por outro lado, apesar desse movimento geral dos pais que, mais flexíveis em suas concepções, revelam melhor acompanhar as mudanças contextuais contemporâneas, alguns modelos de dinâmica familiar permanecem inalterados, o que se reflete nas visões ambivalentes de alguns dos entrevistados acerca da condição adulta de seus filhos. Isto lança luz sobre o fato de a construção da vida adulta preconizar, em última instância, uma transição entre fases distintas do ciclo vital familiar, exigindo a ressignificação da própria parentalidade.