41. O ESPELHO UNIDIRECIONAL E UMA EQUIPE DE OBSERVAÇÃO SUFICIENTEMENTE BOA

ELISABETE MALDANER; HELENA CENTENO HINTZ. DOMUS - CENTRO DE TERAPIA DE CASAL E FAMÍLIA, PORTO ALEGRE - RS - BRASIL.

O processo da terapia familiar realizado em espelho unidirecional, com uma equipe de observação atrás do espelho, permite uma diversidade de olhares e sentimentos talvez não vistos e/ou não sentidos na ausência de tal equipe. O atendimento de famílias difíceis com o recurso de uma equipe atrás do espelho possibilita ao terapeuta mais recursos para novas intervenções e diminuição do sentimento de impotência e ansiedade (Bergman, 1996). Este estudo buscou refletir a respeito da importância da equipe de observação no atendimento de uma família com história de violência doméstica. A partir de um delineamento qualitativo, foi realizado um estudo de caso único com uma família encaminhada pelo Conselho Tutelar de Porto Alegre (RS) que estava sob a Lei Maria da Penha. Foram realizados 24 atendimentos em espelho unidirecional no DOMUS – Centro de Formação em Terapia de Casal e Família. Um dos recursos utilizados pela equipe de observação foram as mensagens terapêuticas e, no decorrer do processo, o sistema familiar, após receber as mensagens, começou a se comunicar com a equipe de observação através do espelho unidirecional, agradecendo a mesma por lhe escutar e valorizar. A equipe de observação não era vista e o espelho refletia simplesmente a imagem do sistema familiar. Aos poucos aquele sistema foi se sentindo pertencente e a partir de Polity (1998), que acredita ser possível utilizar o conceito que Gilberto Safra mencionou de “terapeuta suficientemente bom” ao terapeuta familiar, pensamos que a equipe terapêutica (terapeutas e equipe de observação) vai se tornando uma “equipe suficientemente boa”, oferecendo holding àquele sistema. Durante a fase do holding, ocorre a separação do “eu” e do “não-eu” e é necessário que alguém esteja ali para ser mãe (Winnicott, 1975, 1983). Quando a criança vê a própria imagem no espelho, ela precisa de alguém que lhe ofereça o holding para melhor viver seu processo de integração (Winnicott, 2005). Aquele sistema familiar aos poucos vai transformando o espelho unidirecional nos olhos de uma mãe suficientemente boa. Portanto, a equipe de observação em espelho unidirecional promove mudanças positivas no sistema terapêutico, possibilitando ao sistema familiar um sentimento de pertencimento e estima. Referências Bergman, J. S. (1996). Pescando Barracudas: a pragmática da terapia sistêmica breve. Porto Alegre: Artes Médicas. Polity, E. (1998). Uma leitura winnicottiana na terapia familiar. Trabalho apresentado no Encontro Internacional de Família e Psicanálise - Universidade de São Marcos [LIS ID: LISBR1.1-21364 ]  Retirado em 19/12/2010. Disponível em: http://www.winnicott.com.br/texto_detalhe.asp?txi_ID=43 Winnicott, D. W. (1975). O brincar & a realidade. Rio de Janeiro: Imago. Winnicott, D. W. (1983). O ambiente e os processos de maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre: Artmed. Winnicott, D. W. (2005). A família e o desenvolvimento individual (3ª ed.). São Paulo: Martins Fontes.