59. TERAPIA NARRATIVA: O LADO QUASE LITERÁRIO DA PSICOTERAPIA SISTÊMICA DE CASAL

SINARA DANTAS NEVES; MARIA ANGELICA VITORIANO DA SILVA. CEFAC, SALVADOR - BA - BRASIL.

Este estudo visa compreender o processo de mudança individual construído em terapia sistêmica de casal, a partir de uma perspectiva narrativa. A importância deste estudo reside em contribuir com novas perspectivas de investigação no campo da terapia narrativa no Brasil, além de estimular a construção de novos sentidos e jeitos de se atuar no âmbito da terapia de casal, uma vez que a prática clínica tem sido um importante contexto de geração de conhecimentos e a terapia de casal tem emergido como uma das mais vibrantes forças no domínio da terapia de família e psicoterapia em geral (GURMAN & FRAENKEL, 2002). De acordo com Rasera e Japur (2001), apesar de serem múltiplas as contribuições do construcionismo para o campo da psicoterapia individual e de família, ainda são raros os trabalhos que apresentam tais contribuições para o contexto da terapia de casal. A investigação, de base construcionista social, está referenciada no método qualitativo exploratório, baseada em estudo de caso, observação clínica, levantamento bibliográfico e análise de pontos que estimulem a compreensão a partir da terapia narrativa, da abordagem sistêmica e dos processos reflexivos (GERGEN, 1985; EPSTON, WHITE & MURRAY, 1998). Enquanto procedimento foi realizado acompanhamento terapêutico de casal por 01 (um) ano, com sessões quinzenais de terapia sistêmica, com duração de 50 minutos. Com o material discursivo, foi feita uma análise dos registros das sessões do casal baseada nos Mapas da Teoria Narrativa de Michael White (1990), visando contribuir no aprofundamento do conhecimento sobre a forma como o ser humano constrói a sua experiência de modo narrativo e lhe atribui significado. A observação participante e a análise dos registros das sessões do casal permitiram investigar eventos e intervenções terapêuticas que contribuíram para a construção de uma narrativa em que as partes envolvidas se descrevem com uma maior autonomia de suas vidas, individualmente, superando a narrativa anterior do casal, saturada pelo problema e que os impedia de enxergar novas possibilidades individuais ou na conjugalidade. Entende-se que os recursos propostos pela perspectiva narrativa, tais como a identificação de acontecimentos extraordinários, a externalização do problema e o fortalecimento de narrativas de enfrentamento ajudaram a construir novos sentidos por meio da criação de um espaço dialógico no contexto do casal. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ANDERSEN, T. Processos reflexivos. Rio de Janeiro: Noos, 1991. EPSTON, D.; WHITE, M.; MURRAY, K. Proposta de uma terapia de reautoria: revisão da vida de Rose e comentário. In: McNamee, S. & Gergen, K. J. (orgs.). A terapia como construção social (pp. 117-139). Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. GURMAN, A. S., & Fraenkel, P. The history of couple therapy: a millennial review.Family Process, 41(2), 199-260, 2002; RASERA, E. F.; JAPUR, M. Mudança em psicoterapia de grupos: reflexões a partir da terapia narrativa. Psicologia Clínica, Rio de Janeiro, vol.22, n.1, p.125 – 140, 2010; WHITE, M.; EPSTON, D. Médios narrativos para fines terapéuticos. Buenos Aires: Paidós, 1990;